A Fibromialgia (FM)

22-11-2020

A Fibromialgia (FM) é uma síndrome dolorosa de origem desconhecida, que afeta principalmente mulheres, sendo caracterizada por dores músculo-esqueléticas difusas, locais dolorosos específicos à palpação - pontos dolorosos - associados frequentemente a distúrbios do sono, fadiga, cefaleia crónica e distúrbios cognitivos e gastrointestinais. Estima-se que sofram de FM entre 2% a 5% da população adulta, dependendo dos países e que da população atingida, entre 80% a 90% serão mulheres entre os 20 e os 50 anos.

As queixas da Fibromialgia podem ser ligeiras ou graves, definindo assim um espectro funcional que vai do mero incómodo até à incapacidade para manter um emprego, as atividades domésticas ou mesmo para desfrutar o convívio com a família e com os amigos, o que torna a doença heterogénea nas suas manifestações. Atualmente sabe-se que é uma forma de reumatismo associada a uma maior sensibilidade do indivíduo perante um estímulo doloroso. O termo reumatismo pode ser justificado pelo facto da fibromialgia envolver músculos, tendões e ligamentos não envolvendo no entanto as articulações tal como acontece com a Artrite Reumatoide e a Osteoartrite. Apesar da FM poder apresentar-se de uma forma extremamente dolorosa e incapacitante, ela não causa deformação.

Os sintomas e a sua intensidade são variáveis de pessoa para pessoa podendo até, na mesma pessoa, variar ao longo do tempo o que dificulta o tratamento e a adaptação do doente a um novo estilo de vida que lhe permita lidar com a doença. A dor é o sintoma cardinal da FM, caracterizada por ser crónica e difusa por todo o corpo e de intensidade variada. Uma das características essenciais é também a existência de áreas sensíveis à pressão chamadas pontos dolorosos. Estes pontos localizam-se em áreas bem identificadas sobre músculos, tendões e tecido adiposo e distribuem-se generalizada e simetricamente. No entanto os sintomas de rigidez, fadiga e distúrbios do sono estão presentes em mais de 75% dos pacientes. Outros sintomas também frequentemente referidos são as perturbações cognitivas, perturbações gastrointestinais, dores de cabeça, hipersensibilidade química, intolerância ao frio, depressão, ansiedade, alterações de humor, dor torácica não cardíaca e disfunção temporomandibular. Estes sintomas são muitas vezes agravados por fatores externos como o stress, frio, humidade, ruído, mudanças climatéricas e excesso de esforço e fatores internos como a ansiedade, depressão e variações hormonais.

A Fibromialgia é por vezes difícil de reconhecer na prática clínica diária o que provavelmente contribui para subestimar a sua frequência. Não existem exames laboratoriais, radiológicos ou outros que confirmem ou excluam a sua presença. A escassez de sinais objetivos e a ausência de exames auxiliares de diagnóstico específicos, torna as queixas subjetivas dos doentes fundamentais para o diagnóstico. Assim, o diagnóstico é baseado nas queixas do doente, na sua história clínica e no exame físico cuidadoso.

Deste modo é essencial que sejam seguidos de forma rigorosa todos os critérios de diagnóstico e que seja realizado um diagnóstico diferencial permitindo despistar outras patologias e assim confirmar ou excluir a presença de FM. O diagnóstico não exclui, no entanto, a presença de outras doenças simultâneas, contudo é necessário assegurar-se que não se confunda outra enfermidade com a FM, de forma a iniciar o tratamento adequado.

Atualmente não existe uma única terapêutica específica que vá de encontro às necessidades de todos os utentes. O que parece ser mais eficaz são várias combinações terapêuticas a que se chegou de forma empírica e pragmática. A multifactoriedade e a diversidade das manifestações, a variedade das necessidades e a complexidade das preocupações dos doentes com FM, justificam plenamente que a sua abordagem terapêutica seja realizada por uma equipa multidisciplinar, em que todos os profissionais intervenientes, coordenados pelo reumatologista, devem conhecer todas as modalidades potencialmente úteis para o controlo da FM. Mas se a terapêutica da FM deve ser multifacetada a abordagem dos doentes deverá ser individualizada. Apesar da maioria dos doentes continuar a referir dor crónica, uma abordagem correta e responsabilizadora do próprio doente pode melhorar muito a função e a qualidade de vida de muitos deles. O envolvimento ativo do doente, quer na escolha quer na realização das diversas modalidades terapêuticas utilizadas para o controlo da sua doença, torna-o mais participativo e colaborante aumentando assim a eficácia do tratamento.
O plano de intervenção nos utentes com FM engloba Fisioterapia, a terapia cognitivo-comportamental e o tratamento medicamentoso. Ao nível da Fisioterapia, o tratamento é composto essencialmente por programas de exercícios de alongamento muscular, exercícios aeróbicos, fortalecimento muscular e hidroterapia. Podem ainda ser utilizados outros recursos como a eletroterapia, termoterapia (calor ou frio), terapia manual e relaxamento. O principal objetivo da intervenção deve ser proporcionar a melhor qualidade de vida aos seus utentes utilizando as várias modalidades existentes.